domingo, 17 de outubro de 2010

O Estouro da Revolta

Encouraçado Minas Gerais

Em 22 de novembro de 1910, os marinheiros dos navios Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Deodoro se revoltaram contra seus comandantes, por questões de castigos corporais e falta de estrutura para trabalhar, como alimentação ruim, horários de trabalho pesados e a falta de treinamento para os novos navios comprados recentemente da Inglaterra. João Cândido, o líder dos revoltosos, assumiu o comando do encouraçado Minas Gerais, e os navios participantes da Revolta apontaram seus canhões para a cidade do Rio de Janeiro, que na época era a capital federal. A Revolta dos Marinheiros já estava sendo preparada há alguns meses, ainda na Inglaterra enquanto esperavam a conclusão da fabricação dos navios, mas o castigo de 250 chibatadas dado ao marinheiro Marcelino Rodrigues no dia anterior por ele ter levado uma garrafa de cachaça a bordo adiantou o levante e eles tiveram apenas um dia para orquestrar os pontos decisivos do confronto.

Veja o relato de João Cândido sobre esse momento:
Marinheiro João Cândido

"Pensamos no dia 15 de novembro. Acontece que caiu forte temporal sobre a parada militar e o desfile naval. A marujada ficou cansada e muitos rapazes tiveram permissão para ir à terra. Ficou combinado, então, que a Revolta seria entre 24 e 25. Mas o castigo de 250 chibatadas no Marcelino Rodrigues precipitou tudo. O comitê resolveu, por unanimidade, deflagrar o movimento no dia 22. O sinal seria a chamada da corneta das 22 horas. O Minas Gerais, por exemplo, por ser muito grande, tinha todos os toques repetidos na proa e popa. Naquela noite o clarim não pediria silêncio e sim combate. Cada um assumiu o seu posto e os oficiais de há muito já estavam presos em seus camarotes. Não houve afobação. Cada canhão ficou guarnecido por cinco marujos, com ordem de atirar para matar contra todo aquele que tentasse impedir o levante.

Às 22h50min, quando cessou a luta no convés, mandei disparar um tiro de canhão, sinal combinado para chamar à fala os navios comprometidos. Quem primeiro respondeu foi o São Paulo, seguido do Bahia. O Deodoro, a princípio, ficou mudo. Ordenei que todos os holofotes iluminassem o Arsenal da Marinha, as praias e as fortalezas. Expedi um rádio para o Catete, informando que a Esquadra estava levantada para acabar com os castigos corporais.

Os mortos, na luta, foram guardados numa improvisada câmara mortuária e, no outro dia, manhã cedo, enviei os cadáveres para terra.

O resto foi rotina de um navio de guerra."



MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata: subsídios para a história da sublevação na Esquadra pelo marinheiro João Cândido em 1910. 5ª edição comemorativa do centenário da Revolta da Chibata, organizada por Marco Morel. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Cidadania, cor e disciplina na Revolta dos Marinheiros de 1910. Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2008.

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