domingo, 17 de outubro de 2010

As reivindicações da marujada

Carta do marinheiros para o presidente.
Após tomarem os navios, os marinheiros apontaram os canhões para o Rio de Janeiro e efetuaram disparos de alerta. Os estrondos chegaram ao Clube da Tijuca, onde estava tendo a apresentação de uma ópera do compositor alemão Wagner para comemorar a posse do presidente Hermes da Fonseca, eleito uma semana antes, onde ele estava presente com todo seu ministério. Houve pânico em toda a cidade, vidraças foram estilhaçadas com o estrondo dos disparos, as pessoas fugiam para o subúrbio para poder ficar mais longe do mar com medo dos disparos. Era o caos total.

Presidente Hermes da Fonseca
Os marinheiros redigiram uma carta para o presidente, e nela consta reivindicações sobre o papel dos marinheiros para a melhoria de suas condições de vida, além do fim da chibata e do "bolo", um outro tipo de castigo físico. O verdadeiro redator da carta continua um mistério, mas alguns pesquisadores atribuem a autoria ao marinheiro Francisco Dias Martins, outros ao Adalberto Ferreira Ribas. Estes dois eram dos poucos marinheiros que sabiam ler e escrever. A existência dessa carta ficou desconhecida da população na época, somente as autoridades ficaram sabendo dela, e foi revelada anos mais tarde.

Leia e analise o texto da carta dos marinheiros:


"Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1910


Il.mo e Ex.mo Sr. Presidente da República Brasileira
Cumpre-nos comunicar a V. Ex.a, como Chefe da Nação brasileira: 
Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá; e até então não nos chegou; rompemos o negro véu que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo.




Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os oficiais, os quais têm sido os causadores da Marinha brasileira não ser grandiosa, porque durante vinte anos de República ainda não foi bastante para tratar-nos como cidadãos fardados em defesa da Pátria, mandamos esta honrada mensagem para que V. Ex. a faça aos marinheiros brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilita, acabando com a desordem e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha brasileira; bem assim como: retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir à Nação brasileira. Reformar o código imoral e vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o bolo e outros castigos semelhantes; aumentar o nosso soldo pelos últimos planos do ilustre Senador José Carlos de Carvalho, educar os marinheiros que não têm competência para vestir a orgulhosa farda, mandar pôr em vigor a tabela de serviço diário, que a acompanha.






Tem V. Ex.a o prazo de 12 horas para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada.



Bordo do encouraçado São Paulo, em 22 de novembro de 1910.

Nota: Não poderá ser interrompida a ida e volta do mensageiro.
Marinheiros."

MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata: subsídios para a história da sublevação na Esquadra pelo marinheiro João Cândido em 1910. 5ª edição comemorativa do centenário da Revolta da Chibata, organizada por Marco Morel. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Cidadania, cor e disciplina na Revolta dos Marinheiros de 1910. Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2008.

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