domingo, 24 de outubro de 2010

As negociações

Encouraçado São Paulo

Durante a Revolta, as negociações começaram a acontecer. O governo se articulava para qual atitude ia tomar: bombardear os navios ou conceder anistia para os marinheiros. O governo optou por não atacar os marinheiros, o que desagradou os oficiais da Marinha, que viam na quebra da hierarquia feita pelos revoltosos algo de muito perigoso para a instituição, abrindo um precedente. Mas é preciso lembrar que dois encouraçados, o Minas Gerais e o São Paulo e o scout Bahia eram novos, recém-chegados da Inglaterra, onde foram construídos para o "Projeto de Reaparelhamento Naval", plano de modernização da Esquadra brasileira aprovado 1904, e que não seria muito bom destruir esses navios.

Alguns políticos manifestaram-se a favor da anistia, entre eles o senador Rui Barbosa, que apesar de contrário ao motim porque acreditava que a autoridade militar estava sendo ameaçada, apresentou um projeto de anistia a pedido de um grupo de senadores. Com um discurso longo explicando as condições do país sob a mira dos mais modernos e poderosos canhões do mundo, Rui Barbosa fala para os senadores sobre as opções que restam:

Senador Rui Barbosa
"Ou o governo da República dispõe dos meios cabais e decisivos para debelar esse lamentável movimento, e então justo seria que os empregasse para restituir imediatamente a tranquilidade ao país; ou desses meios não dispõe o Governo da República e, em tal caso, o que a prudência, a dignidade e o bom senso lhe aconselham é a submissão às circunstâncias do momento."

Em outro trecho de seu discurso, Rui Barbosa fala sobre a importância dos marinheiros e suas motivações para a revolta:

"O que constitui as forças das máquinas de guerra não é a sua mole, não é a sua grandeza, não são os aparelhos de destruição - é a alma do homem que as ocupa, que as maneja, e as arremessa contra o inimigo. As almas dessas máquinas que povoam os nossos grandes dreadnoughts, hoje, em nossa baía, sejamos justos ainda para com esses infelizes no momento de seu crime, as almas desses homens têm revelado virtudes que só honram a nossa gente e a nossa raça.
[...]
Extinguimos a escravidão sobre a raça negra, mantemos, porém, a escravidão da raça branca no Exército e na Armada, entre os servidores da pátria, cujas condições tão simpáticas são a todos os brasileiros. Era necessário que não se continuasse a esquecer que o marinheiro e o soldado são homens."

O auditório do senado, formado pelos outros senadores, vibrou com o discurso do senador Rui Barbosa, sendo aplaudido calorosamente.



MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata: subsídios para a história da sublevação na Esquadra pelo marinheiro João Cândido em 1910. 5ª edição comemorativa do centenário da Revolta da Chibata, organizada por Marco Morel. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Cidadania, cor e disciplina na Revolta dos Marinheiros de 1910. Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2008.

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