terça-feira, 2 de novembro de 2010

Nova revolta, novos problemas

Marinheiros sendo escoltados para a prisão
Após a expulsão da Marinha, muitos marinheiros foram presos. As justificativas de que estavam organizando uma nova revolta fez com que eles fossem perseguidos e presos e anulando todas as questões de anistia. Tudo gerado pelo medo dos oficiais que temiam um novo levante, já que até aquele momento não havia sido feita nenhuma mudança nos códigos da Marinha, era um acerto de cumprimento da Constituição pelo fim dos castigos corporais. Mas os boatos de que algo aconteceria em breve não tardaram a ficar mais fortes. Havia, inclusive, um boato de que o Exército invadiria os navios a fim de auxiliar oficiais da Marinha de Guerra na vingança aos oficiais mortos do 22 de novembro. Segundo o capitão Anthero José Marques, que na época havia sido sargento do batalhão, aconteceu o seguinte:

"No dia 29 de novembro começaram a circular boatos de nova sublevação nos navios e também no Batalhão Naval. No dia 2 de dezembro a polícia efetuou a prisão de 8 marinheiros e um soldado naval, que se achavam conspirando em uma casa, na rua do Lavradio. No dia 4, foram presos pela polícia mais 22 marinheiros, que se achavam reunidos em uma casa, na Piedade. Pelo inquérito a que essas praças responderam, ficou apurado tratar-se de nova revolta a bordo dos navios, na qual o Batalhão Naval tomaria parte. No dia 5, foi ordenado no Batalhão Naval rigorosa prontidão, recolhendo-se ao quartel os destacamentos que estavam e que não eram necessários."

Batalhão Naval
O Batalhão Naval, estabelecido na Ilha das Cobras, era vinculado à Marinha mas respondia a outros regulamentos. Nele, havia soldados - e não marinheiros - que tinham sobretudo a função de infantaria. O Batalhão era responsável pela vigilância das dependências e navios da Armada. Mas às 22:30 do dia 9 de dezembro, foi ouvido o toque de corneta de "Batalhão Naval, avançar". Iniciava-se a segunda revolta, agora na Ilha das Cobras, e em meio a soldados do Batalhão. O líder desta revolta, Jesuíno da Lima Carvalho, apelidado de "Piaba", ordenou que os flancos fossem guarnecidos, que arrombassem o paiol e distribuíssem o armamento, que libertassem todos os presos e os armassem e, finalmente, tomou posse do telégrafo para manter um canal de comunicação com os anistiados em novembro e o próprio governo. A ideia era evitar uma invasão das forças do Exército.

Os amotinados mandaram radiogramas para o encouraçado Minas Gerais e para o presidente da República, dizendo "que tinham se revoltado porque os oficiais pretendiam com forças do Exército apoderaram-se do Batalhão para abordarem o Minas Gerais". O levante no Batalhão Naval não procurava validar reivindicações como em novembro, nem pôr o governo contra a parede. Na verdade, surgiu como reação à possibilidade de os oficiais alcançarem os intentos veiculados nos boatos espalhados pelos capitães tenentes Radamante e P. Rocha. Piaba e os demais cabeças parece terem agido em defesa do governo e dos marinheiros anistiados, impedindo que os oficiais se unissem ao Exército e cometessem um atentado contra a ordem republicana: ir a bordo do Minas Gerais e degolar todos os marinheiros que se achavam por terem esses assassinado o comandante Batista das Neves.

A troca de tiros e os gritos de "Viva a Liberdade" foram novamente repetidos pelos soldados do Batalhão. Os marinheiros que haviam se amotinado em novembro não os apoiaram. O Batalhão Naval ficou só e, sendo um alvo fixo, não foi difícil destruí-lo. As barricadas foram montadas e espalhadas rapidamente pela beira da praia, da praça XV de Novembro ao Mosteiro de São Bento. Com o auxílio do Exército, os oficiais da Marinha já estavam preparados para realizar o intenso bombardeio que praticamente destruiu a maior parte das instalações da Ilha das Cobras, causando inúmeras mortes. Dessa vez, não houve negociação. Esmagada a revolta do Batalhão Naval, foi decretado o estado de sítio. Com esse instrumento, o governo Hermes da Fonseca pôde então agir com toda a liberdade para destruir qualquer foco de rebeldia na Armada. Começou, assim, a perseguição a todos os marinheiros e soldados suspeitos.



MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata: subsídios para a história da sublevação na Esquadra pelo marinheiro João Cândido em 1910. 5ª edição comemorativa do centenário da Revolta da Chibata, organizada por Marco Morel. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Cidadania, cor e disciplina na Revolta dos Marinheiros de 1910. Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2008.

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